segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Tudo que eu gosto (2)

... Engorda.

O que me faz refletir sobre Deus e o diabo, céu e inferno.

Nunca entendi muito bem o que os cristãos querem dizer com “Deus criou todas as coisas” mas o mal é fruto do diabo. Além disso, meu interesse em aprofundar meus estudos bíblicos acabou na primeira aula da crisma na oitava série, quando professora Adelaide Angélica tentava justificar o injustificável e me transmitir uma mensagem que eu já não conseguia absorver.

Pois partindo do pressuposto que existem Deus, diabo, inferno e céu, podemos concluir que o primeiro criou todas as coisas, inclusive os desafios impostos a nós, seres humanos, para talvez entretê-lo. Tudo o mais são idéias de sua mente divina, onipresente e onipotente, intrigas pra fazer de nossa existência algo mais interessante pra assistir. Que graça tem um filme sem tramas e provações? Se o mocinho se dá bem do início ao fim, se não há vilões, se não há percalço, não há catarse no final feliz, não existe alívio e recompensa.

Para então chegarmos ao nosso final feliz da vida real, o céu, temos que passar por nossos desafios materializados nas tentações, sermos mocinhos, sob pena de cairmos no tal do inferno que promete ser viver infeliz para sempre, a contramão do que nos pregam desde o nosso nascimento. O mistério maior, o sentido da vida, consiste em buscar a felicidade - sem nunca achar. Quer cilada maior? Lançamo-nos um objetivo inatingível baseado numa pura suposição, de que uma vida infeliz nos levará à vida eterna, e feliz, no céu.

O que quero dizer com vida infeliz? Não faça isso, não faça aquilo, restrições. Vida de privações, esse é o caminho para o reino de Deus. E o que Dedé tentava me dizer naquela aula era que o mundo evoluiu, que os valores mudaram, e que as privações de hoje não são as mesmas de antigamente. Pois se a igreja vem tentando se adaptar ao mundo moderno pra continuar viva, perde sua força, pois não reflete mais onipotência. Mas percebo que Deus tem seus meios. É a onipresença demonstrando que ele está lá controlando nossa vida, nos testando eternamente.

Se Deus existe, por que faz as coisas fritas serem mais gostosas que as cozidas? Por que criou a gordura trans, o açúcar e os radicais livres? Ou melhor, se criou todas essas coisas, por que elas fazem mal?
Daí podem me responder que a hipertensão, a obesidade, a diabetes, enfim, as doenças, são criação do demo. Seguindo este raciocínio posso ver a vida como uma comédia de deixas, e Deus, quem diria, é o gancho para Satanás.

É engraçada, stand up puro!
Deus diz: “humanos, criei a batata frita, olha que delícia!”
Nós dizemos: “Obrigada, Deus, pela batata frita!”
Aí vem o diabo e diz: “Rá! Pegadinha do tinhoso, INFARTO!”
Daí a gente se toca da jogada, e percebe que temos que evitar a maravilhosa batata frita se quisermos atingir o ideal da vida saudável, que nada mais é que Deus materializado através da voz dos malditos médicos e demais profissionais de saúde (ou humanas, caso seja Educação Física na Federal), tentando, brincando com nossa força de vontade, e lutando contra nossa vontade.

Isso, claro, se você acredita em Deus, no diabo, céu e inferno. Se não, a vida é somente uma piada de mal gosto em si mesma.

Eu fico tentada a acreditar em Deus, e me pergunto se essa não é mais uma tentação a qual devo resistir. Mas se tem uma coisa que não consigo acreditar, é no diabo. Se eu for então, realmente, acreditar em Deus, vou ter certeza que o Stacker triplo da Burger King é divino, assim como meus sentidos já me sugerem, e que as conseqüências são meras conseqüências, são vida, que é sempre curta e uma só, como a gente deve viver. E como!

17 comentários:

Rodrigo Feitosa disse...

Embora eu acredite em uma coisa diferente de Céu e Inferno, deus e diabo.

ADOREI o texto, relamente já andei namorando essas idéias e discuti muito com alguns queridos amigos religiosos.

Se formos pelo lado da evolução, Egngordiet é mais gostoso pq a necessidade do homem primordial era por energia: Carbohidratos e Gorduras. Por isso refrigerante ao invés de suco, por isso batata frita ao invés de arroz, e por aí vai.

"Deus é o gancho pro satanás" óooootimo, realmente a relação entre os dois é uma comédia bíblica.

Obrigado pela leitura súper agradável.

Blake disse...

Sinceramente a única coisa que a gente faz se privando dessas coisas e tentar evitar ir lá conhecer o céu.
A doença não vem do diabo, vem do fato de que tds têm que morrer de alguma coisa, ou o mundo não aguenta, os profissionais de saúde só têm uma função, tentar postergar a história natural das coisas, Deus, coitado, não tem nada haver se vc quer viver mais ou menos. Ele não mandou vc abrir a boca e jogou uma batata frita la dentro, ele tb n criou a batata frita, ele pode ter criado a batata e, quem sabe, até o oleo, mas a mistura fomos nós que fizemos! E, sinceramente, já ví muita gente morrer por ai, e se vc é bonzinho ou mal não muda nada, na sua hora, já era, não importa o que ninguem faça, vc vai morrer e ponto, quer vc queira, quer Deus queira ou quer o Diabo não queira.

Chan. disse...

Huahuahuahuaa, lá vem a outra com suposição disfarçada de pragmatismo.

Acho ótimo que tenha tanta convicção, mas a verdade é que... você não sabe. Ninguém sabe.

Pode ser Deus, o diabo, você... mas essa certeza nós não temos, só nos resta fé ou falta dela.

E viva meu blog fazendo Carol discursar!

OBS: Blake, fofa, não leve pro pessoal... "malditos médicos" foi modo de falar, hehe.

Rodrigo Feitosa disse...

Mas carol levantou uma questão importante: A participação humana nisso tudo.

Deus dá a ferramenta a gente faz o que quer e damos o nome de Diabo aos nossos erros.

Sim, o diabo somos nós e o inferno é aqui. Assim como o céu, o limbo e tudo o mais.....

Olha! Um querubim passando!

Blake disse...

hauhauah não levo pro pessoal, mas em relação à morte eu seu pragmática, ela perde a magia depois que vc começa a ver td tipo de gente morrer. A morte existe pq a gente tem que voltar a fazer parte do ciclo no nitrogenio, do carbono... viva a biologia! As outras coisas, no fim, são mais do mesmo.

Ju Marques disse...

Deus seria, no caso, um educador, e não um comediante.

Colocou todas as coisas à nossa disposição, e espera para ver como reagiremos. Como um pai que, pra educar, permite que seus filhos errem. E no erro, apredam a acertar.

E, para que se prove o verdadeiro aprendizado, coisas aparentemente boas que fazem mal; e certas "restrições" necessarias.

O homem é como a criança que quer tomar banho de chuva, mas não se importa se haverá ou não consequências.

E o céu e inferno são, na verdade, apenas reflexo da nossa consciência. Afinal, "sereno é quem tem a paz de estar em par com Deus".

Rob disse...

Apesar de ter adotado atualmente o pensamento Platônico (o inicial, ao invés das distorções religiosas), fico pensando. Se a busca de uma verdade aqui é pela idéia de pensar de forma mais abrangente, a intenção é filosofia. Bem, disso eu não entendo (vamos chamar Hamilton para ajudar).
Agora, falando sério, se a idéia é essa, então não acho que exista sentido em buscar uma verdade conveniente a um momento específico. Se pensarmos que nada disso existia (isso quero dizer Monoteísmo e suas conseqüências no pensamento das pessoas), então criamos outra questão.
Vamos voltar ao conceito politeísta das coisas (falo sobre idéias, afinal já disse que curto Platão). Eles tinham a chave da felicidade que se perdeu na transição para o pensamento platônico. O objetivo mor da vida não é buscar a felicidade, mas aprender a ser feliz. Nos grandes bacanais (por favor, não criem a imagem cristã disso que temos. Não estou falando só de putaria), a idéia era se entregar a prazeres em momentos específicos para que fosse possível contê-los no dia-a-dia, já que uma existência só de prazer individual impossibilita a vida em sociedade. Se levarmos em conta que uma das formas oficiais de prazer eram os sacrifícios, vem a idéia que quero passar. Eles acreditavam que para tudo existia um Deus. Então, ao matar, estavam glorificando o Deus da morte, ao beber, o do vinho, ao amar, à Deusa do amor, etc. Em suma, para tudo existia um Deus. A idéia não era um ideal de perfeição, mas uma buscar de um certo equilíbrio. Se você resolvesse adorar apenas a um, você poderia estar irritando outro. Pense que se você tem que adorar, mesmo que em porções menores, tudo, então tudo é aceitável com equilíbrio.
Resumo: É tudo psicológico. "O objetivo mor da vida não é buscar a felicidade, mas aprender a ser feliz." O que nos faz ter pensamentos como o seu e muitos outros é, na verdade, o medo da morte, porque, como o desgraçado do Platão criou essa idéia de imortalidade, e a vida eterna virou a busca, automaticamente deixamos de ver a morte como parte do equilíbrio e começamos a vê-la como algo ruim. Coma a batata! Demeter, deusa da agricultura agradece!

Chan. disse...

Não foi Platão que nos fez temer a morte, foi a própria vida.

O medo do desconhecido é inerente ao ser humano, e enquanto estamos vivos nossa experiência se resume a viver.

E, com certeza, não foi o medo da morte que gerou meu pensamento, e sim, o medo de viver errado, de onde ele vem, e se há sentido nele.

Continuemos com minha filosofia...

Rob disse...

O que quis dizer foi, se projetamos a realidade, o errado é o que cremos que seja. A questão de Platão foi que ele criou a ideia de um ideal único e universal, enquanto antes o ideal era diverso.
O que quiz dizer é que não creio em um ideal universal, mas na contextualização. Tipo, se alguém gosta muito uma coisa que "faz mal", ela pode tentar comer bem para satisfazer seu desejo de tempos em tempos sem culpa. Se a pessoa gosta do que "faz mal" e só come porcaria, não estaria, de alguma forma, consciente ou inconscientemente, tentando fazer mal a si mesma?
Antes que venha a interpretação de que estou julgando, eu adoro porcaria. Você sabe. Mas não deixa de ser uma coisa a se pensar.

Rob disse...

E contra os extremistas, também digo: Se você adora algo que "faz mal", excluir completamente os itens inclusos nesse conceito não faria mal também, já que o físico e o psicológico são tão conectados?

Felipe Miranda disse...

Quando tem conversa de Deus e Diabo eu acho interessante como temos a tendência de afirmar aquilo que Deus pensa e quer para a gente. "Deus quer que a gente faça isso ou aquilo"
São sempre convicções tão humanas!
Em relação a acreditar em Deus, ou em alguma força sobrenatural, eu acho que faz parte da natureza humana. Se pudessemos excluir toda e qualquer referência do conceito "Deus" da humanidade no tempo de hoje, acho que em algum ponto do tempo daqui pra frente, esse conceito renasceria novamente.

nem sei pq escrevi isso...acho que foi só pra participar tbm dessa roda de discussão! e que venha o "tudo que eu gosto 3,4,5..." pra continuarmos trocando ideias!

Abraços

Rodrigo Feitosa disse...

Felipeta, vc abordou agora uma questão que me permeia a cabeça desde sempre:

Que porra é que nós sabemos?????

O que a bíblia nos diz, o Corão, O evangelho segundo o espiritismo....

Não sabemos nada. Escolhemos no que acreditar, o que "sentimos" como verdade. Pura preseunção.

Não sabemos nem se as cores que vemos são verdadeiras mesmo ou tudo ilusão de ótica.

A dita fé, muitas vezes tolhe o pensamento, transformando o ser consciente num jumento.

Não sabemos nada, o resto é presunção.

Blake disse...

Vamos todos então marcar uma ida ao Burger King para discutir sobre isso! hehehhee

Rodrigo Feitosa disse...

hahahahah Eu vou levar meu subway!

Ju Marques disse...

To colada!

Felipe Miranda disse...

gurduuuraaa!! eu tbm!!!

Rob disse...

Estou começando a achar que sua vida é muito fácil. As coisas que vc gosta só são ilegais e engordam? Ahhhh...achei que essa série teria vida longa!:) Brincadeira. Mas, falando sério, vim dizer que estou no aguardo do próximo post.